Publicado em: 09/11/2018 17:20:08
Primeiro espetáculo da Trupe dos Conspiradores
No último dia 03 de novembro de 2018, às 20 h, estreamos, no Teatro Guaporé de Porto Velho, o espetáculo Inimigos do Povo. Tirando todo o nervosismo que é inerente a uma estreia, quase tudo correu como planejado. Interpretação, cenografia, figurinos, maquiagem, músicas, vídeos, projeções e iluminação caminharam juntos para o desenvolvimento estético do espetáculo. Pela primeira vez pudemos ver, ouvir e sentir todos os elementos audiovisuais, materiais e humanos da encenação e notá-los integrando um conjunto semântico coerente e coeso.
Na plateia encontravam-se amigos, parentes, convidados, patrocinadores, apoiadores, artistas, alunos e professores de teatro, técnicos e pessoas comuns da cidade de Porto Velho. O Teatro Guaporé não estava completamente lotado, mas, dos 236 lugares disponíveis, 154 estavam ocupados. Também se notava certa apreensão e nervosismo vindo do público, afinal, muitos estavam torcendo para que o espetáculo desse certo e as expectativas que tinham a respeito do trabalho fossem alcançadas.
Começamos a apresentação exatamente às 20 h. O Sr. Paulo, o profissional da FUNCER responsável técnico pelo Complexo Teatral Palácio das Artes, a quem agradecemos muitíssimo, disse-me, quando estávamos na cabine de som e de luz, que aquela era uma das poucas vezes que um evento começava no horário no Teatro Guaporé. Pena que boa parte do público da nossa capital não esteja acostumada com pontualidade, pois muita gente entrou depois do horário permitido. Isso prejudica a iluminação, a concentração dos atores e da equipe técnica, bem como a apreciação estética por parte da plateia que já estava no recinto.
Os atores começaram o Prólogo da Sra. Democrácia um pouco nervosos. Confesso que eu também me sentia tenso; estava na cabine auxiliando o iluminador Raoní e dando um apoio moral para Rafael, o nosso sonoplasta. Meu coração batia a mil por hora, minhas mãos tremiam e a minha respiração estava ofegante. A todo momento eu bebia água, porque meus lábios estavam ressecados. Contudo, passados alguns poucos minutos, o nervosismo foi cedendo espaço para a alegria e para a tranquilidade. As reações positivas da plateia ao espetáculo foi nos contagiando e a atmosfera, que antes era pesada, foi tornando-se leve e agradável. O público ria das atrapalhadas de Guestrudes e Byllie, interpretadas, respectivamente, por Vavá de Castro e por Andrelina Paiva; e parecia se emocionar com os conflitos entre os irmãos Stockmann (Dr. Thomas e o prefeito Peter), interpretados por Ádamo Teixeira e Enderson Vasconcelos, e entre a professora Petra (Stéphanie Matos) e a editora-chefe do Jornal A Voz do Povo Joana (Jamile Pereira), que davam um tom mais dramático a Inimigos do Povo. O primeiro e o segundo atos do nosso espetáculo têm mais palavras, haja vista seguirmos um pouco mais a narrativa de Um Inimigo do Povo, texto do norueguês Henrik Ibsen. Senti que conseguimos, mesmo com a verborragia ibseniana, manter a atenção do público. Talvez as quebras dos atores (distanciamentos épicos) tenham ajudado nisso. Já o terceiro e quarto atos são mais imagéticos e sonoros. Muitas das coreografias, músicas e projeções concentram-se nesses atos. Então, esperávamos uma aceitação maior por parte da plateia. E isto, realmente, aconteceu! Destacam-se as cenas Mordaça, Tortura de Petra, Morte da Democrácia, Julgamento do Dr. Stockmann e Conspiração Inimigos do Povo. Todavia, nos dois primeiros atos também recorremos à visualidade e à marcação cênica que flerta com a dança e com a dança-teatro como, por exemplo, a corrida das personagens quando descobrem que os balneários da cidade estão contaminados por infusórios e bactérias, o bailado do Dr. Stockmann com a Sra. Democrácia (cena em que sombrinhas compõem visualmente com o tronco dançante da boneca sem cabeça) e a descontraída e colorida Fermento pra Massa (cena das perucas).
Após a apresentação do espetáculo ocorreu um descontraído bate-papo (na realidade, nem tanto, pois eu estava nervoso e curioso por saber o que os espectadores tinham sentido e se gostaram ou não do nosso trabalho!). Pelo exposto, houve grande aceitação por parte da plateia. Muitos falaram das emoções experimentadas: alegria, tristeza, angústia, raiva, compaixão, etc. Outros se apegaram à visualidade e plasticidade do trabalho, elogiando o cenário, o figurino, a maquiagem, as projeções e a iluminação. Alguns se ativeram às questões políticas tratadas pelo grupo. Entretanto, a grande maioria preferiu falar da interpretação dos atores e atrizes da Trupe dos Conspiradores. Foram vários elogios e muitas perguntas feitas sobre o processo de criação das personagens, bem como sobre o trabalho corporal e vocal dos artistas da cena. Dentre todas as personagens elaboradas, a favorita da plateia parece ter sido a Guestrudes, ou Coisinha, interpretada por Vavá de Castro. Realmente, ela conseguiu arrancar risos e lágrimas dos espectadores! Enfim, todas as personagens foram criadas com muito esmero e cuidado. Isso ficou nítido ao longo da apresentação. Os atores e as atrizes mergulharam de cabeça nas pesquisas das suas personagens. Mergulho semelhante foi dado por todos os envolvidos na montagem, sejam discentes, docentes e técnicos do Curso de Licenciatura em Teatro, sejam alunos dos cursos de Música e Artes Visuais, ou ainda pelos profissionais não ligados a UNIR que trabalharam conosco nestes quase dezoito meses (um ano e meio) de processo criativo. Só tenho a agradecê-los por todo o carinho e dedicação ao trabalho. Gratidão também à SEJUCEL e ao Governo de Rondônia, pela concessão ao nosso projeto do Prêmio de Teatro Jango Rodrigues, à FUNCER, à PROCEA e ao Departamento de Artes da UNIR. E claro, ao público que prestigiou a nossa estreia. E viva o teatro!
Fonte: Foto de Mário Roberto Venere. Cena Conspiração Inimigos do Povo.